Ginástica Laboral faz 40 anos de existência no Brasil
Postado em 27/11/2018
Fonte: CREF2/RS
Em 2018, o Sistema CONFEF/CREFs, em conjunto com a sociedade brasileira, celebram os 40 anos da implantação no país da Ginástica Laboral, uma ferramenta extremamente importante para a manutenção da saúde dos trabalhadores. Tanto em nível mundial, como nacional, a evolução desta atividade esteve intimamente ligada às transformações do mundo do trabalho e às demandas relativas à saúde dos trabalhadores. O novo ritmo de produção imposto pela Revolução Industrial, que implementou linhas de produção em série, através de grandes cadeias de produção seriais, forçaram os operários a realizar diariamente milhares de movimentos repetitivos. Ao mesmo tempo que esse gigantesco desenvolvimento manufatureiro aumentou em muito a eficiência e a produtividade, gerou em contrapartida o crescimento exponencial de novas doenças laborais, como Lesões por Esforço Repetitivos (LER), Distúrbios Osteo-Musculares (DORT), além de acidentes no chão de fábrica. Este quadro preocupante alertou pesquisadores, médicos, empregadores e sindicatos ao redor do mundo para os sérios prejuízos à saúde dos trabalhadores, acarretados pela produção massiva que se estendeu pelas cidades e campos.
O afastamento do trabalho por problemas de saúde ainda é uma realidade crescente no Brasil. De acordo com o Anuário do Sistema Público de Emprego e Renda do Dieese compilado a partir de informações do Ministério do Trabalho, em 2015, foram contabilizados 181,6 mil casos de natureza diretamente relacionada ao ambiente profissional – o que representa uma alta de 25% comparado aos dez anos anteriores.
Para elaborar uma resposta aos novos problemas laborais e proporcionar um ambiente mais sadio e seguro aos trabalhadores, fez-se necessário um estudo profundo de cada seção de trabalho, do quadro funcional, dos turnos, das características da organização e dos seus diversos setores. Estava nascendo a Ginástica Laboral, que em seus primórdios era denominada “ginástica de pausa”, implantada na indústria europeia com o objetivo de dar repouso ativo aos operários por alguns períodos durante sua jornada de trabalho. A partir deste momento histórico, a ideia toma força e se dissemina pelo mundo.
No Brasil, o Rio Grande do Sul foi pioneiro oficial na implantação do programa, quando no dia 22 de novembro de 1978, tendo como protagonista a Escola de Educação Física da FEEVALE-RS, efetivou-se o primeiro contrato com uma empresa da região para a implantação de um programa de Ginástica Laboral, baseado em análises biomecânicas e estruturada pelos profissionais de Educação Física da instituição, bem como através de parcerias com o SESI da região. A data virou um marco histórico para a atividade, tanto que em vários estados do país, o dia 22 de novembro é oficialmente considerado o Dia da Ginástica Laboral, referência importante para reforças ao conjunto da sociedade sobre o valor que estes programas têm para a saúde e para a produtividade sustentável.
Como observa o conselheiro do CREF2/RS e Ergonomista do Trabalho, Alessandro Gonçalves (CREF 005863-G/RS), o atual modelo de Ginástica Laboral representa uma importante ferramenta ergonômica e exerce papel fundamental no equilíbrio entre a saúde, produtividade e qualidade de vida dos trabalhadores envolvidos nos programas. “Utilizar a Ginástica Laboral de forma estratégica, alinhada com ações de ergonomia e segurança ocupacional é um diferencial competitivo em empresas que entendem o passado, trabalham o presente e constroem o futuro”, assegura. Alessandro explica que a atuação do profissional de Educação Física frente a programas de Ginástica Laboral exige conhecimentos em diversas áreas. “Entender o contexto em que as organizações estão inseridas irá atribuir um ganho de competitividade aos profissionais, já que a função exige identificação com o sistema de trabalho das empresas clientes. Também é obrigatório conhecer as cadeias musculares, exercícios de alongamento, relaxamento e fortalecimento muscular. Além disso é preciso entender os componentes da música, a ludicidade, o equilíbrio, a propriocepção e as rotas metabólicas”, enumera.
Alessandro argumenta que a Ginástica Laboral é aplicável onde houver trabalho, pois sempre haverá riscos biomecânicos envolvidos, portanto os programas de GL têm vários ambientes para se desenvolver. Um novo mercado a ser explorado são as zonas agrícolas. “Apesar de ainda não estar muito difundida, a prática de Ginástica Laboral em ambientes rurais pode garantir aos trabalhadores e empregadores os mesmos benefícios encontrados e já mensurados nas empresas, cujas sedes encontram-se em locais urbanizados”.
É o que acontece em Américo Brasiliense (SP), onde cerca de 200 cortadores fazem diariamente Ginástica Laboral antes de começar a trabalhar. O objetivo é prevenir doenças como lesão por esforço repetitivo, que atinge com frequência os cortadores de cana. O projeto foi criado depois de uma norma regulamentadora de 2005 exigir das empresas melhoria nas condições de trabalho e ações de prevenção a acidentes de trabalho. Isso ocorre também nas grandes empresas da cadeia produtiva do frango no Rio Grande do Sul, como a Perdigão, a Doux/Frangosul e a Minuano, que oferecem uma ampla gama de benefícios assistenciais aos seus funcionários, entre eles programas de Ginástica Laboral nas suas linhas de produção.
De fato, são os resultados quantitativos na melhora da saúde do trabalhador e do consequente aumento da produtividade, advindo do bem-estar proporcionado pelo programa, que tornaram a Ginástica Laboral em uma atividade econômica consolidada no mercado. Segundo a presidente da Associação Brasileira de Ginástica Laboral (ABGL), Cynara Cristina Pereira (CREF 068042-G/SP), o programa está implantado em inúmeras empresas de diversos segmentos por todo o país e cresce na medida em que profissionais de Educação Física tem se especializado para desenvolver os programas, a partir da publicação e da demonstração científica dos indicadores de resultados, e se fortalece quando inovações bem sucedidas são aplicadas nos ambientes corporativos. “Dados científicos informam que o passivo gerado pelas das doenças laborais, os afastamentos e o absenteísmo oneram três vezes mais a empresa que todos os custos somados de produção, aí inclusos matéria-prima, os insumos, os salários e a logística. Portanto, é muito mais inteligente investir em programas de promoção da saúde e qualidade de vida no trabalho”, avalia.
O Rio Grande do Sul, além de ter sido vanguarda na implantação da Ginástica Laboral no país, sedia empresas com sólida cultura de promoção da saúde dos trabalhadores. Um destes exemplos é o Banrisul S/A, cujo programa de Ginástica Laboral, de acordo com a conselheira do CREF2/RS e supervisora de Ginástica Laboral e Fitness do Banrisul Cláudia Lucchese (CREF 002358-G/RS), foi construído a “quatro mãos”. “Foi em 1999 que se formou uma comissão paritária de saúde, composta de membros representando os empregados indicados pelo Sindicato da categoria e membros representantes da Empresa, dando início a um projeto piloto em algumas agências, que após seis meses já tinha indicativo de expansão às mais de 500 agências do Banrisul”, constata. Cláudia esclarece que o objetivo do programa é a prevenção das Lesões por Esforços Repetitivos – LER, especificamente os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT e promoção da saúde ocupacional dos empregados da empresa.
Conforme a supervisora, desde a implantação poucas vezes ocorreram interrupções no programa. “Até porque esta atividade faz parte do acordo coletivo selado pelo Sindicato com o Banco". O maior problema, explica Claudia, se dá por conta da morosidade nas licitações públicas, acarretadas pelo formalismo no procedimento. “Importante ressaltar que por ser um programa qualitativo, o banco nunca buscou medidas de resultados em produtividade. A questão maior sempre foi a percepção subjetiva do empregado em relação ao programa. O quanto a prática da Ginástica Laboral colabora para a qualidade de vida no trabalho”, especifica. Os dados levantados entre os participantes pela supervisora demonstraram que 95% destes entendem que quando participam das atividades, sentem-se mais ativos, como menos desconfortos em relação às posturas exigidas no seu posto de trabalho. Também consideram que levantar da cadeira e mobilizar seu corpo e relaxar a mente tem sido o grande ganho com esse programa. “Hoje a média de participação no Banrisul é de 65% dos empregados. No momento, passamos novamente por um processo de licitação pública”, relata a supervisora.
Outro grande referencial para o setor é o Serviço Social da Indústria (SESI), pioneiro na área e grande divulgador da Ginástica laboral no país, constantemente reconhecida pelos serviços prestados em segurança e saúde no trabalho. Premiado com o Marca Brasil no período entre 2006 a 2017, distinção que reconheceu a excelente atuação do SESI em Ginástica Laboral, Medicina Ocupacional e Serviços para Semana Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho (Sipat), o SESI ainda teve sua Ginástica Laboral eleita por 12 anos consecutivos como o melhor programa de GL do País.
Para o superintendente do Sesi-RS, Juliano Colombo, a Ginástica Laboral busca atuar como ferramenta de promoção de saúde do trabalhador, interagindo com a política corporativa da empresa. "Nosso objetivo é contribuir para a educação postural e adaptação funcional, além de estimular o exercício físico e o comportamento saudável. Com as ações de promoção da saúde, o Sesi-RS busca contribuir para o bem estar e o aumento da produtividade da indústria. A atividade começou no Brasil, em 1978, em parceria do Sesi gaúcho com a Feevale, com o projeto Ginástica Laboral Compensatória. Hoje atuamos com o Programa Sesi Ginástica na Empresa, em 114 companhias, alcançando cerca de 8.700 trabalhadores no estado", explica. Em todo o país, o SESI Ginástica na Empresa atende diariamente 750 mil trabalhadores de 2,5 mil indústrias.
Tendo em vista a importância da Ginástica Laboral para os trabalhadores e como mercado para os profissionais de Educação Física, o CREF2/RS irá comemorar os 40 anos da implantação da Ginástica Laboral no Brasil realizando na manhã do dia 1º de dezembro o “Workshop Ginástica Laboral: Os Desafios e Oportunidades do Mercado”. O evento, com público-alvo nos profissionais e estudantes de Educação Física, inicia às 9h, com a palestra "Como criar e comercializar programas de Ginástica Laboral" ministrada pelo conselheiro Alessandro Gonçalves (CREF 005863-G/RS). O conselheiro reforçará em sua fala a prerrogativa dos profissionais de Educação Física como protagonistas da Ginástica Laboral, bem como discorrerá como realizar um planejamento sólido para criar e comercializar programas de Ginástica Laboral. A partir das 10h30min, ocorrerá um workshop prático de execícios, com encerramento das atividades previsto para as 12h.
Workshop Ginástica Laboral: Os Desafios e Oportunidades do Mercado
Data e horário: 1º de dezembro, sábado, das 9h às 12h
Local: sala 204 da FADERGS
Endereço: av. João Pessoa, 1107, bairro Farroupilha, Porto Alegre/RS
Inscrições gratuitas e mais informações podem ser obtidas pelo site http://crefrs.org.br/eventos/laboral2018/. As vagas são vagas limitadas, e encerram no dia 29 de novembro, quinta-feira
Contato: 51-3288 0200
Organização: CREF2/RS
Apoio: FADERGS
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